“Quem vai à casa de Deus,
não vai de mãos vazias”.
Argumentos desse gênero impregnam os discursos dos líderes de movimentos
religiosos no território angolano. Esta proliferação de seitas religiosas é um
movimento que vem a marcar a Angola, principalmente porque levanta uma série de
discussões nos mais variados setores da sociedade a respeito das consequências
que tem trazido ao seio das comunidades angolanas. Esta pesquisa pretende
analisar a Proliferação das seitas religiosas em Angola a partir das
perspectivas noticiadas pelo Jornal de Angola, na internet, com vistas a
compreender e levantar uma reflexão de como essa proliferação tem influenciado
a cultura religiosa na nossa sociedade.
Palavras-chave:
proliferação de seitas religiosas; imprensa; cultura religiosa.
INTRODUÇÃO
Pretendo
analisar como se processa o processo de proliferação de ceitas religiosas no
continente africano, mais especificamente na região de Angola. Para realizar
essa pesquisa, que é parte inicial de um estudo em andamento com vistas ao meu,
analisarei as notícias do Jornal de Angola, revistas, Internet e outros
recursos que forem necessários. Neste estudo darei ênfase na Proliferação de
Seitas Religiosas, objetivando uma reflexão de como esse movimento tem
influenciado o nosso país.
CONCEITOS BÁSICOS
Ao longo de milhares de anos a religião tem tido um importante papel na
vida dos seres humanos. Sob uma forma ou outra, a religião existe em todas as
sociedades humanas conhecidas. As sociedades mais antigas, de que apenas temos
conhecimento através dos vestígios arqueológicos, mostram traços claros de
símbolos e cerimónias religiosas. Ao longo da historia subsequente, a religião
continuou a ser um elemento central da experiência humana, influenciando o modo
como vemos e reagimos ao meio que nos rodeia. (Giddens 2007)
Contudo, a atitude religiosa e o pensamento moderno racionalista coexistem
num estado incómodo de tensão. Com o aprofundar da modernidade, uma perspectiva
racionalista conquistou muitos aspectos da nossa existência e parece pouco
provável que a sua força venha a enfraquecer num futuro previsível (ဦ) por
vezes a religião e a ciência parecem contradizer-se. Os debates sobre as
perspectivas evolucionistas sobre a criação da história, por exemplo, revelam
duas maneiras diferentes de compreender as origens do homem. Noutros mementos,
contudo, a religião e a ciência podem misturar-se sob formas estranhas e
interessantes. (Ibdem)
A variedade de crenças religiosas e de organizações religiosas é tão
grande, que os estudiosos têm tido sérias dificuldades em chegar a uma
definição de religião genericamente aceite. No ocidente, a maioria das pessoas
identifica a religião com o Cristianismo – uma fé num ser supremo, que nos
obriga a um comportamento de índole moral na terra, e nos promete uma vida alem
da morte. No entanto, não podemos definir nestes termos religião como fenómeno
global. Estas crenças e muitos outros aspectos do cristianismo, estão ausentes
da grande maioria das religiões do mundo. (Ibdem)
Neste espírito, procedemos a um
estudo que congregasse aspectos gerais da religião buscando os ensinamentos dos
pais fundadores da Sociologia, assim como a consulta e interpretação de dados
bibliográficos, no que toca a questões internas, recorremos a alguns dos mais
conceituados especialistas locais na área do saber sobre a qual se cingiu a
nossa pesquisa, tendo em alguns casos abordado com certa profundidade aspectos
como os ki-mbandas e os problemas causados pelas seitas assim como possíveis
soluções para o problema.
BREVE ABORDAGEM SOBRE A RELIGIÃO
Para que possamos antes mesmo
de entrar naquilo que é objecto do nosso estudo (seitas religiosas),
precisamos inserir-nos no conceito global de religião, para tal, precisamos de
começar por saber o que é, e o que não é religião, e só então enquadrar-nos no
conceito e abordar a sua problemática.
O QUE NÃO É RELIGIÃO
Segundo Antonhy Giddens para
ultrapassarmos as ciladas do pensamento culturalmente enviesado quanto a
religião, será provavelmente preferível começarmos por dizer o que a religião
em termos gerais, não é. Em primeiro lugar ainda segundo o autor, a religião não devia
ser identificada com monoteísmo (a crença em um só Deus). Na maioria das
religiões proliferam diversas divindades. Mesmo em algumas versões do
Cristianismo, existem varias figuras com qualidades sagradas: Deus, Jesus,
Maria, o espírito santo, anjos e santos. Em algumas religiões não existem
quaisquer deuses.
Em segundo lugar, a religião não
deveria ser identificada com preceitos morais que controlam o pensamento dos
crentes – como os dez mandamentos que Moisés terá supostamente recebido de
Deus. A ideia de que os deuses estão interessados no nosso comportamento
terreno não existe em muitas religiões. Na Grécia antiga por exemplo, os
desuses eram bastante indiferentes as actividades dos homens.
Em terceiro, religião não está necessariamente
preocupada em explicar como o mundo se tornou no que é. No Cristianismo, o mito
de Adão e Eva propõe-se explicar a origem da existência humana e muitas religiões têm
mitos deste tipo, embora haja muitas outras em que isto não acontece.
Em quarto, a religião não pode
ser identificada com o sobrenatural, vista como envolvendo
intrinsecamente a crença num universo "para alem do reino dos
sentidos". O Confucionismo, por exemplo, prende-se com a aceitação da
harmonia natural do mundo e não com a procura de verdades que estão para alem
dele.
“SEITA” OU “IGREJA”?
As notícias dão conta de que
a proliferação de seitas ou movimentos religiosos reconhecidos como igreja foi
favorecida pela paz que Angola conquistou em 2002, constituindo assim, um
fenômeno social que está a marcar o país de forma mais evidente. Sendo assim
considerada, como um fenômeno social, levanta uma série de problemas à medida
que as notícias comumente sinalizam para a questão da diferenciação dos termos,
pois “igreja” a rigor, nada tem a ver com “seita”, tratando-se de realidades
diferentes. Vejamos como o jornal define.
Igreja: Instituição social,
agente de socialização, transmite conteúdo de cultura de uma geração para outra
e hierarquia de funcionários sérios e bem constituídos.
Seitas: Agrupamento de
pessoas que professam a mesma doutrina religiosa, pequena organização formal
surgida de rupturas, líderes quase sempre leigos ou pregadores sem formação
específica, mas que declaram ter recebido um “chamamento” especial para
divulgar o Evangelho e tem como objetivo inicial descobrir o caminho da “verdade”
e segui-lo.
AS SEITAS E O CRISTIANISMO
Atualmente as seitas são
incontáveis e multiplica-se por quase toda parte do território angolano,
definindo-se quer por uma base do cristianismo quer por elementos de religiões
e culturas tradicionais. O governo angolano autorizou a criação de um dossiê
sobre a proliferação dessas seitas religiosas, elaborado por peritos e
instituições, a fim de apurar argumentos que possam justificar o encerramento
de alguns segmentos religiosos que operam no país com a alegação de que suas
doutrinas teológicas levantam muitas dúvidas sobre a seriedade com a qual
desenvolvem suas atividades.
Entre os pontos cruciais que
embasam esse projeto de encerramento de algumas congregações e a rejeição de
muitos pedidos de legalização de outras, alicerçam-se no “culto da feitiçaria”,
que está a ganhar um espaço considerável, mesmo sabendo das consequências que
essa prática provoca, uma vez que afeta muitas pessoas que estão a
serem vítimas da exploração
e dos caprichos dos vários cidadãos que se autoproclamam “profetas”,
“videntes”, “adivinhos”, devidamente inspirados por Deus. É a partir dessa
perspectiva que o cristianismo entra em choque com os elementos que não fazem
parte de um “verdadeiro credo religioso”. Quanto ao “feitiço”, trata-se de um
dos problemas levantados no âmbito da Antropologia social e religiosa dos povos
africanos e que provoca polêmica. Admitem-se distinções entre termos e figuras
como mago, adivinho, curandeiro, mas tudo pode ser enquadrado no mesmo
contexto: o da feitiçaria. Segundo o jornal, sobre este aspecto há certa
unanimidade entre estudiosos que aceitam que o feiticeiro faz parte de uma
realidade que se situa do lado do mal, da noite, da destruição, do antissocial,
pois pertence ao mundo tenebroso. Quando alguém é acusado, reconhece sempre as
suas responsabilidades, mesmo sem consciência do que fez ou faz. Nestas
circunstâncias, é severamente punido com várias sentenças: pode ser queimado,
agredido até a morte, degolado, etc.
Noticia-se que quando alguém
é acusado de feiticeiro pelos “profetas”, gera-se pânico, as crianças são
rejeitadas e as famílias se dividem, portanto, este que “revela” falsamente
essa vertente, desestabiliza o acusado e as pessoas que lhe são queridas, não
deixando assim de ser um criminoso. Daí a necessidade de zelar pela ordem
social, condenando teológica, pastoral e juridicamente as seitas promotoras
dessa prática.
COMISSÃO INTERMINISTERIAL PARA
ESTUDOS E TRATAMENTOS DO FENÔMENO RELIGIOSO
No âmbito nacional, as
notícias apontam para a criação da Comissão Interministerial para Estudos e
Tratamento do Fenômeno Religioso, por despacho n° 32/09 de 05 de Outubro de
2009, de Sua Excelência o Sr Presidente da República da Angola José Eduardo dos
Santos, com o objetivo de estancar a proliferação anárquica das igrejas por
todo o país.
A comissão, coordenada pela
Ministra da Cultura Rosa Cruz, deve apresentar mensalmente um relatório
pormenorizado sobre a evolução do processo. Integram ainda a comissão, os
ministros da Administração do Território, da Justiça, do Comércio, da
Assistência e Reinserção
Social, da Família e Promoção da Mulher e o assessor social do Presidente da
República.
Entre suas muitas
atribuições, a comissão deve elaborar um estudo sobre as origens e as causas do
fenômeno religioso em Angola e adotar um conjunto de medidas que visem estancar
a expansão das seitas religiosas no território nacional dando especial atenção
às acusações de feitiçaria feita às crianças, bem como promover encontro com
líderes das igrejas reconhecidas e escutar as suas opiniões quanto aos
conflitos das lideranças religiosas e elaborar estudos sobre a eventual
alteração do quadro jurídico vigente sobre o exercício da liberdade de
consciência, de religião e de culto.
Desde a criação da comissão,
algumas considerações foram feitas por parte de líderes dos mais variados
segmentos religiosos. O secretário-geral do Conselho das Igrejas Cristãs em
Angola (CICA), Luis Nguimbi declarou a propósito da criação da comissão
Interministerial, que o governo deve acelerar o processo de controle das
igrejas, por reconhecer o papel relevante destas na sociedade, realçando
principalmente a contribuição que deram para a Independência de Angola.
O bispo da Igreja Católica
na Diocese de Viana, D. Joaquim Ferreira Lopes, salienta que o fenômeno
religioso atual deve ser profundamente analisado, sobretudo no que diz respeito
aos motivos que provocam o seu aparecimento, a sua expansão e a sua atuação e
sublinhou que a preocupação do Presidente da República, assim como a
Constituição da comissão Interministerial, só peca pela demora.
O bispo da Igreja de Nosso
Senhor no Mundo, Tocoísta, saudou a iniciativa do Presidente, porém ressaltou
que o mesmo tem responsabilidades não só em questões políticas, mas também do
crescimento moral dos cidadãos.
A fé em Cabinda: Negócio
lucrativo
A prosperidade do negócio
promove a proliferação de seitas religiosas ilegais por toda Cabinda. A maior
parte delas estão instaladas em quintais e os moradores das
redondezas queixam-se que
são massacrados com o barulho ensurdecedor dos alto- falantes que amplificam as
orações e os cânticos de louvor a Deus.
A lucratividade do negócio
deve-se ao fato dos seus promotores encontrarem receptividade no seio da
população cabidense, sobretudo entre as pessoas desesperadas que, face às
dificuldades sociais, recorrem às seitas na tentativa de atenuarem os efeitos
de seus infortúnios. E pagam a pronto. Até há cinco anos, o negócio das seitas
era controlado pelos imigrantes ilegais oriundos do RDC. Hoje, e por se tratar
de um negócio de enriquecimento fácil, muitos cidadãos nacionais fundam seus
“templos”.
Os chefes das seitas
atribuem a si próprios o título de “Papá Pasteur” e são figuras muito
consideradas no seio dos fiéis das igrejas, apesar de serem também o principal
instrumento de extorsão de dinheiro aos seguidores. Os pastores destas seitas
ilegais sacam aos fiéis gordas esmolas e dízimos, recorrendo muitas vezes a
profecias bíblicas sob a argumentação de que quem não tem dinheiro, paga com
bens mais ou menos valiosos, em troca prometem que Jesus irá operar maravilhas
na vida dos doadores.
Os Papás, na maioria
esmagadora das vezes, apenas falam a língua “Lingala” na celebração da
liturgia, e nos cânticos de louvor a Deus. O Secretário Provincial do Conselho
de Igrejas de Angola (CICA) em Cabinda, reverendo João Alberto, ressaltou que
os Papás Pastores estão camuflados como servidores de Jesus, mas a única coisa
que praticam é o “mercantilismo religioso”.
Na vertente teológica, o
representante da CICA em Cabinda, adverte as pessoas a não brincarem com a
religião, pois ela não é uma atividade comercial, mas de ligação do homem com
Deus a quem se deve o culto de adoração pela criação do homem e, acima de tudo,
por se considerar que a providência divina é o que guia o homem.Totemismo e
animismo
Giddens diz que nas culturas
pequenas são recorrentes duas formas de religião: o totemismo e o animismo. A palavra
"totem", originaria das tribos índias norte-americanas, tem sido
amplamente utilizada para assinalar espécies animais ou plantas que
se acredita terem poder sobrenaturais. Normalmente, cada grupo de parentesco ou
sociedade tem o seu totem particular, ao qual estão associados vários rituais.
As crenças totémicas podem parecer estranhas as pessoas que vivem nas
sociedades industrializadas. No entanto, certos contextos relativamente
menores, símbolos semelhantes aos do totemismo são-nos familiares, quando por
exemplo, uma equipa desportiva tem um animal ou planta como emblema. As
mascotes são totens.
JUDAÍSMO, CRISTIANISMO E
ISLAMISMO
As três religiões monoteístas
mais influentes na história do mundo são: O Judaísmo, o Cristianismo e o
Islamismo. Todas tiveram a sua origem no próximo oriente e influenciaram-se
mutuamente. (Giddens 2007).
O
Judaísmo é a mais
antiga das três religiões, datando de cerca de 1000 a. C. Os primeiros Hebreus
eram nómadas, vivendo no Egipto antigo e zonas circundantes. Os seus profetas ou líderes religiosos,
inspiram-se parcialmente em crenças em crenças religiosas existentes na região,
mas diferenciam-se pela sua adoração de um Deus único e todo-poderoso. A
maioria dos povos vizinhos era politeísta. Os Hebreus acreditavam que Deus
exige obediência a códigos morais estritos e reivindicavam o monopólio da
verdade vendo as suas crenças como única religião verdadeira (Zeitlin 1984:88
APPUD Giddens).
Ate a criação de Israel, não
muito depois do final da II guerra mundial, não existia estado algum onde o
Judaísmo fosse a religião oficial. As comunidades Judaicas sobreviveram na
Europa, no norte da África e na ÁSIA, embora tenham sido frequentemente
perseguidas, culminando no assassinato pelos Nazi de milhões de Judeus nos
campos de concentração durante a guerra.
CRISTIANISMO
Muitos pontos de vista
Judaicos, foram adoptados e incorporados pelo cristianismo. Jesus era um. Judeu
Ortodoxo, e o Cristianismo começou como uma facção do Judaísmo; não se sabe ao
certo se Jesus desejava fundar uma religião distinta. Os seus discípulos
começaram a vê-lo como messias[4]– esperado pelos judeus. Paulo, um cidadão
romano de língua grega foi um grande iniciador da expansão do cristianismo,
pregando extensivamente na Ásia menor e na Grécia. Embora os cristãos tenham sido,
inicialmente barbaramente perseguidos, o Imperador Constantino acabou por
adoptar o Cristianismo com religião oficial do império Romano. O Cristianismo
tornou-se uma força dominante na cultura ocidental durante os dois milénios
seguintes. (Giddens 2007)
O Cristianismo tem actualmente
maior número de seguidores e encontra-se mais difundido em todo o mundo do que
qualquer outra religião. Mais de mil milhões de indivíduos reconhecem-se como
Cristãos, mas existem muita divisões de ordem teológica e na organização das
Igrejas, as principais das quais são a Igreja Católica, Protestante e as
Ortodoxas. (Ibdem)
ISLAMISMO
Para Giddens as origens do
Islamismo, hoje em dia a segunda maior religião do mundo (ver quadro) têm
pontos em comum com as do Cristianismo. O Islamismo deriva dos ensinamentos do
profeta Mohamed no século VII da era cristã. Segundo o Islamismo, o seu único
Deus, Alá, domina toda a vida humana e natural. Os pilares do Islão são os
cinco deveres religiosos essenciais dos muçulmanos (assim se chamam os crentes
islâmicos). O Primeiro é a recitação do credo islâmico "só Alá é Deus e
Mohamed o seu profeta".
O segundo é rezar as orações
formais cinco vezes ao dia, fazendo-as proceder por uma lavagem cerimonial.
Nestas orações por mais longe que se encontre, o crente deve rezar sempre
virado para cidade santa de Meca, na Arábia Saudita.
O terceiro pilar consiste na
observância do Ramadão, um mês de jejum durante o qual não se pode ingerir
comida ou bebida durante o dia.
A dadiva de esmolas (dinheiro
aos pobres) estabelecida na lei islâmica que tem sido usada frequentemente como
fonte de imposto pelo estado.
Finalmente espera-se que cada
crente tente fazer pelo menos uma peregrinação a Meca.
Os Muçulmanos acreditam que Alá
falou através dos primeiros profetas – Incluindo Moisés e Jesus – antes de
Mohamed, cujos ensinamento exprimem mais directamente a sua vontade. O
Islamismo expandiu-se muito, tendo qualquer coisa como mil milhões de aderentes
em todo o mundo. A maioria esta concentrada no norte e no leste da África, no
Oriente e no Paquistão.
TEORIAS DA RELIGIÃO
Giddens diz que as abordagens
sociológicas da religião Aida são fortemente influenciadas pelas ideias dos
três teóricos clássicos da Sociologia: Marx, Durkheim e Weber. Nenhum era
crente e todos achavam que a importância nos tempos modernos. Todos acreditavam
que a religião era num sentido fundamental, uma ilusão. Os defensores das
diferentes doutrinas podem estar inteiramente convencidos da validade das
crenças que defendem e dos rituais em que participam, contudo, estes três
pensadores sustentam que a grande diversidade de religiões e suas ligações
obvias a diferentes tipos de sociedade fazem com que essas convicções não sejam
plausíveis.
Karl
Marx, apesar da
sua influência nesta matéria, nunca estudou a religião ao pormenor. A maior
parte das suas ideias derivam dos escritos de vários autores, teólogos e
filósofos do começo do século XIX. Um deles, Ldwing Feuerdbach, que escreveu um
famoso trabalho intitulado "A essência do Cristianismo" (Feuerdbach,
1957 publicado pela primeira vez em 1841). De acordo com este autor, a religião
consiste em ideias e valores produzidos pelos seres humanos no decurso do seu
desenvolvimento cultural, mas projectados erroneamente em forças divinas ou
deuses. Como os seres humanos não percebem inteiramente a sua própria historia,
tendem a atribuir valores e normas criadas socialmente à acção dos deuses.
Deste modo, a historia dos dez mandamentos dados a Moisés por Deus é uma versão
mítica das origens dos preceitos morais que norteiam a vida dos crentes judeus
e cristãos[6](Giddens, 2007)
Ao contrário de Marx, Emile Durkheim passou grande parte da
sua vida intelectual a estudar a religião, especialmente as religiões em
sociedades pequenas, tradicionais. O trabalho de Durkheim, As formas elementares da vida religiosa, publicado pela
primeira vez em 1912, é talvez o estudo mais influente da Sociologia da
Religião. (Durkheim, 1976 appud Giddens 2007). O autor, não relaciona a
religião, em primeiro lugar, com as desigualdades sociais ou o poder, mas com a
natureza geral das instituições gerais de uma sociedade. Baseia o seu trabalho
no estudo sobre o totemismo, tal como este é praticado pelas sociedades
aborígenes australianas, e argumenta que o totemismo representa a religião na
sua forma mais elementar ou simples – daí o título do seu livro.
Define a religião em termos de
distinção entre o sagrado e o profano De acordo com Durkheim, o totem é sagrado
porque é o símbolo central do grupo e representa os seus valores centrais, cujo
respeito e reverência provêem do respeito que as pessoas depositam nos seus
valores, sendo que o objecto de valor é a própria sociedade. Realça fortemente
o facto de as religiões implicarem sempre cerimonia e rituais regulares que
reúnem grupos de crentes e não apenas uma questão de fé, sendo que, para si, os
rituais e as cerimónias são essenciais para manter a coesão do grupo
Durkheim, tal como Marx pensa
que as religiões que as religiões que envolvem forças divinas estão prestes a
desaparecer no entanto, afirma que, num certo sentido, a religião, sob uma
forma alterada, irá provavelmente continuar.
Diferentemente de Durkheim, que
com base no seu estudo sobre o totemismo, cujas ideias acreditava poderem
aplicar-se a religião em geral, Weber efectuou um estudo exaustivo sobre as
religiões de todo o mundo A maior parte da sua atenção concentrou-se no que
chamou religiões mundiais – aquelas que
atraíram um grande número de crentes e afectaram decisivamente o curso global
da história. Estudou pormenorizadamente o Hinduísmo, o Budismo, Taoismo e o
judaísmo antigo (Weber, 1951, 1952, 1958, 1963) e na Ética protestante e o Espírito do capitalismo (1976;
publicado pela primeira vez em 1904-5) e noutros escritos debateu longamente o
impacto do cristianismo na historia do ocidente, contudo não completou o seu
projecto sobre o islamismo.
CONSIDERAÇÕES FILOSÓFICAS
¾
Seja
qual for a sua inserção semiológica, imprescindível é saber que seita, como ideologia ou como grupo
que a professa, está colocada em desfavor no jogo do poder, face ao (s)
detentor (es) da dominação. Isso vale em religião, política, ou outra qualquer
expressão humana.
¾
Seita é
conceito sempre relativo em termos circunstanciais de espaço-tempo e de grau de
abrangência cultural e/ou populacional.
¾
Além
disso, é conceito dinâmico, pois o que é seita num dado lugar, num dado momento histórico e para dada
abrangência cultural e/ou populacional, pode vir a ser a ideologia
dominante numa outra circunstância (espaço-tempo, cultura etc. diferentes,
subsequentes).
O conceito essencial de seita conecta-se com o de heresia, já que este significa o
conjunto de idéias que, em princípio e face às consideradas dominantes, destas
divergem e devem, portanto, ser rejeitadas. A questão da rejeição é,
naturalmente, tão pura e simplesmente, apenas imposição do poder da estrutura
ideológica que está no domínio.
ETIMOLOGIA
A palavra seita provém do latim secta (de sequi, que significa seguir), um curso de acção ou forma de vida, designando
também um código comportamental ou princípios de vida ou ainda uma escola de
filosofia ou doutrinas. Um sectator é um guia
leal, aderente ou seguidor.
As palavras sectarius ou sectilis referem-se
também ao corte ou acto de cortar, embora a etimologia da palavra não tenha
semelhança alguma com a definição moderna que lhe é dada dentro do contexto
actual.
ORIGEM DE ALGUMAS SEITAS
Somente uma Igreja foi fundada
por Cristo e confiada a Pedro e seus legítimos sucessores – os Papas. Por isso
ela, desde os primeiros séculos, foi chamada Igreja Católica – quer dizer
UNIVERSAL – para todos. Todas as igrejas ou seitas cristãs têm seu fundador e a
data de sua origem. Eis as datas de algumas delas:
¾
Protestantes
– Luteranos: Fundados por Martinho Lutero (1484-1546) na Alemanha - sacerdote
agostiniano - que depois se casou com uma ex-freira.
¾
Batistas:
Por John Smith, clérigo anglicano, na Inglaterra e Holanda, no Século XVII. No
Brasil desde 1871.
¾
Presbiterianos:
Por John Knox, sacerdote católico, contagiado pela doutrina de Lutero e
Calvino. Na Escócia, em 1560.
¾
Congregacionistas:
Por Robert Brawne, clérigo anglicano, na Inglaterra em 1600.
¾
Metodistas:
Por John Wesley, na Inglaterra, em 1727.
¾
Anglicanos
Episcopais: Pelo rei da Inglaterra, Henrique VIII, em 1534, pelo "Ato de
supremacia Régia". Obcecado pela paixão, casou-se 8 vezes, mandando
executar algumas de suas ex-esposas.
¾
Adventistas:
Por William Miller - Estados Unidos, em 1831. Agricultor, sem estudos, predisse
algumas vezes o fim do mundo, sem efeito!
¾
Testemunhas
de Jeová: Por Charles Tazed Russel, Estados Unidos, em 1874. No Canadá, em
pleno Tribunal jurou conhecer a língua grega. Sendo-lhe apresentado o Novo
Testamento em grego, foi convencido de perjúrio. Sua mulher divorciou-se dele
em 1897, acusando-o de adultério com duas mulheres, e de maus tratos.
¾
Igreja
Apostólica: Por Eurico Matos Coutinho, que chama a si mesmo de
"bispo". Morava em São Paulo, Brasil.
¾
Pentecostais
e Assembléia de Deus: Por pastores de 100 congregações diferentes dos Estados
Unidos, em 1914.
¾
Evangelho
Quadrangular: É um ramo de Pentecostalismo, iniciado por Harold Williams, nos
Estados Unidos, e promovido no Brasil desde 1940.
¾
Congregação
Cristã no Brasil: Por Luís Francescou, em 1910, em Platina - Paraná, Brasil.
Depois estabeleceu-se entre os migranters italianos em São Paulo.
¾
Mórmons
ou Igreja dos Santos dos Últimos Dias: Fundação fantástica de José Smith, em
1830, nos Estados Unidos.
¾
Igreja
Universal do Reino de Deus: Fundada por Edir Macedo, em 1977, no Rio de
Janeiro, Brasil. É um ramo pentecostal que leva as práticas de curas, milagres
e exorcismo ao extremo. Edir Macedo foi um adepto da umbanda e se proclamou
bispo da igreja fundada por ele e que já está presente em 46 países.
SEITAS RELIGIOSAS EM ANGOLA
Para
o Doutor Américo Kwononoca no seu trabalho, "As religiões em Angola", A introdução da doutrina cristã no
que é o actual espaço que se chama Angola, teve início com a «evangelização
sistemática a partir de 1490, quando os missionários católicos chegaram às
"novas terras" e baptizaram sucessivamente o governador do Soyo, em
Abril de 1491 e Nzinga Nkhuvu, rei do Congo, em Maio desse mesmo ano».
1.
A implantação da Igreja Católica nas áreas do Congo do Ndongo e Matamba
estendeu-se ao extremo leste, nordeste e sudeste até ao século XX. A igreja
cristã terá iniciado a sua actividade em Angola na década de 1850, com maior
incidência na parte norte e centro. Tanto a igreja católica como a protestante
comportam várias denominações e congregações. A partir do ano de 1980,
assistiu-se a entrada em Angola de expatriados de várias nacionalidades
oriundos sobretudo da África Ocidental, região de populações maioritariamente
muçulmanos (aderentes da religião Islâmica).
Como
consequência, deu a implantação dessa religião primeiro em Lunada,
estendendo-se actualmente a todo País. Assim, em Angola regista-se actualmente
a presença das religiões cristãs (Católicos e Protestantes) e Islâmica como
universais. O aparecimento de uma variedade de organizações religiosas esteve
na base de diferentes interpretações dos textos bíblicos. Assistiu-se ao
surgimento do movimento dos antonianos em Mbanza Congo e, mais tarde, como
consequência lógica, ao tokoismo no século XX, uma das mais importantes igrejas
nacionais, fundada pelo Simão Gonçalves Toko.
Uma
outra religião sincrética que tem emergido e encontrado um lugar de destaque na
sociedade angolana é o Kimbanguismo. Decorrente desse fenómeno, verifica-se
hoje uma grande proliferação de organizações religiosas que podem ser
classificadas em: a) igrejas espiritualistas, b) igrejas dissidentes da
doutrina cristã e c) igrejas não cristãs. Algumas dessas igrejas, surgiram como
resposta a situação colonial tendo durante esse período, sobrevivido na
clandestinidade, enquanto outras foram introduzidas pelas comunidades angolanas
que a partir de 1974 regressaram ao país.
2.
É o monoteísmo actualmente predominante que justifica a crença na existência de
um Ser Poderoso e Supremo designado Nzambi (entre Bakongo, Tucokwê e ambundu),
Klunga (entre os Ngangela, Kwanyama, Axindonga e Helelo), e Suku ( entre os
ovimbundu e Nyaneka Khumbi). Essa entidade suprema considerada como criadora e
supervisora do universo, é coadjuvada, segundo os povos bantu, por outros
deuses menores mas também poderosos, através dos quais de chega a ela. É o caso
dos deuses da fecundidade, da caça, das chuvas, da sorte, da protecção, do
gado, entre outros.
CONCLUSÃO
A questão da religião em Angola
é uma questão de suma importância, na medida em que, ela quase que confunde-se
com a sua própria historia e cultura Importa igualmente salientar que apesar de
ser a mais popular e com número mais elevado de fiéis, o Cristianismo não é a
religião genuína de Angola, uma vez que, a historia nos ensina, que tal como o
domínio colonial Português, o Cristianismo foi-nos imposto pela força, constituindo
sem dúvida, um dos traços mais fortes, se não o mais forte da nossa historia e
cultura.
No que toca à
parte espiritual, pode-se dizer que a “revelação dos feiticeiros” especialmente
as crianças, é uma preocupação que sempre está em pauta, pois, em muitas
comunidades é a prática da “feitiçaria” que ocupa um lugar central, segundo a
prática africana, mas que hoje deve merecer outras considerações para evitar
que desgraças recaiam sobre a vida de inocentes.
O
que podemos constatar com base na leitura preliminar, é que esta nos forneceu
quatro questões que revelam como essa temática da proliferação de seitas
religiosas em Angola é problemática tanto no campo religioso quanto no
político. A partir daí, pretendo desenvolver o trabalho tratando das
categorias, no sentido de cruzar informações encontradas com bibliografias a
respeito, a fim de concluir a pesquisa.
BIBLIOGRAFIA
¾ CAMARGO, Cândido Procópio
Ferreira de. Católicos, Protestantes, Espíritas, Petrópolis: Vozes, 1973.
¾ HOUTART, François. Sociologia
da religião. São Paulo: Ática, 1994.
¾ JARDILINO, Jose Rubens Lima;
SOUZA, Beatriz Muniz de; GOUVEIA, Eliane Hojaij. Sociologia da religião no
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